Aquário de Ciclídeos Africanos
Aprendi sobre ciclídeos quando era menino, durante minhas compras para montar um aquário. Queria um tanque de água salgada, pois seus habitantes são mais coloridos, mas meus pais achavam que esses peixes eram muito exigentes. Preparado para me contentar com guppies, plantas de plástico e um bagre para limpar as algas, o atendente da loja me apresentou aos ciclídeos. Eles são de água doce, mas tão coloridos quanto os peixes de um recife de coral. Comprei um par de demasonis, ciclídeos azuis listrados, e assim começou meu fascínio por Ciclídeos Africanos.
Os ciclídeos são encontrados em todo o mundo, principalmente na África e na América Latina, com uma diversidade impressionante no Lago Malawi, que abriga pelo menos 850 espécies. Isso é mais do que todas as espécies de peixes em águas doces europeias juntas. Apesar de serem um espetáculo de cores, montar um aquário de ciclídeos africanos exige conhecimento sobre seu habitat natural.
Os ciclídeos africanos são originários de diversos lagos da África ocidental e oriental, além de alguns rios. No entanto, a maior concentração de espécies se encontra no Lago Malawi, também conhecido como Lago Niassa. Situado no sul da África, ele é circundado por Malawi, Tanzânia e Moçambique. Com uma largura que varia de 16 km a 87 km e uma profundidade média de 300 metros (máxima de 760 metros), é o terceiro maior lago da África, com mais de 1200 espécies catalogadas.
Um terço do Lago Malawi é formado por rochas, e sua temperatura varia de 20°C no inverno a 30°C no verão, com uma média anual entre 24°C e 28°C. O pH da água também varia devido às correntes: na superfície, a alta dissolução de oxigênio eleva o pH, enquanto nas profundezas, onde o oxigênio é escasso, o pH é mais baixo. A dureza da água varia entre 6 e 8 dH.
Outro importante habitat é o Lago Tanganica, a cerca de 700 metros acima do nível do mar. Este é o lago mais comprido do mundo, estendendo-se por 680 km de norte a sul, com uma linha costeira de 1900 km. É o segundo maior lago da África em volume e profundidade, com 1470 metros no ponto mais profundo e uma média de 572 metros. O Lago Tanganica contém cerca de um sexto da água doce do planeta.
O pH do Lago Tanganica varia entre 8,5 e 9,2, com uma dureza total de 11 a 17 dH. A transparência da água pode alcançar até 20 metros, dependendo da época do ano. Durante todo o ano, a temperatura da água varia entre 23°C e 27°C. A oxigenação é maior até cerca de 50 metros de profundidade, onde a vida aquática se concentra.
Existem dois grupos distintos de ciclídeos africanos: os Mbunas e os Non-Mbunas.
Mbunas: Habitantes das partes rochosas do lago, são menores e mais agressivos, defendendo ferozmente seus territórios. São onívoros e incluem gêneros como Pseudotropheus, Melanochromis e Labidochromis.
Non-Mbunas: Menos agressivos e residentes das áreas abertas do lago, seus territórios são mais espaçados. Incluem gêneros como Aulonocara (Peacocks) e Haplochromis (Haps).
Os ciclídeos do Lago Tanganica, menores (6-10 cm) e menos agressivos que os do Malawi, desovam no substrato e se alimentam de plâncton, microcrustáceos e alevinos. Gêneros notáveis incluem Tropheus, Lamprologus e Julidochromis.
Esses peixes são únicos desses lagos africanos, não sendo encontrados em nenhum outro lugar do mundo, exceto em aquários.
Aquário de Ciclídeos Africanos
Finalmente vamos falar sobre o Aquário de Ciclídeos Africanos! Para montar um aquário de ciclídeos, é fundamental conhecer a origem desses peixes e entender seu habitat natural.
Os ciclídeos africanos se desenvolvem melhor em aquários grandes, preferencialmente acima de 350 litros, com muitas tocas e esconderijos. Não economize nas pedras! Como são extremamente territoriais, cada peixe vai defender seu próprio espaço. Machos são dominantes e algumas espécies, como o Auratus, podem não tolerar outro macho no aquário. Por isso, o ideal é manter de 3 a 4 fêmeas para cada macho, o que ajuda a reduzir o comportamento territorial. A agressividade desses peixes está relacionada a três fatores principais: disputa por sexo, comida e tocas.
Comportamento e Alimentação
Uma característica interessante do Auratus é que, quando dominante, ele se torna macho, mas pode permanecer fêmea se houver outro macho dominante. Manter os peixes bem alimentados, de 3 a 4 vezes ao dia, e baixar a temperatura para 26°C ajuda a diminuir o metabolismo e a agressividade dos peixes. Além disso, manter o aquário cheio de tocas aumenta a sobrevivência dos peixes perseguidos. A perseguição faz parte do comportamento natural dos ciclídeos, que possuem uma hierarquia social bem definida.
Água e Parâmetros
Os ciclídeos africanos são resistentes, mas requerem condições específicas de água. O pH deve estar entre 7.4 e 8.5, com uma média de 8.0 sendo ideal. A temperatura deve ficar entre 26°C e 29°C, lembrando que temperaturas mais altas aumentam o metabolismo dos peixes.
Substrato e Filtragem
O substrato do aquário é crucial, pois ajuda a manter o pH estável. Uma boa opção é o “African Cichlid Mix”, um cascalho importado que promove uma biologia saudável e mantém o pH alto. Alternativamente, você pode usar conchas moídas misturadas com cascalho comum ou halimeda, que é um tipo de cascalho utilizado em aquários marinhos.
A filtragem é essencial, pois esses peixes produzem muita sujeira. Filtros tipo sump, canister ou filtros externos de boa qualidade são recomendados. A água deve circular pelo menos 5 vezes o volume do tanque, e trocas parciais de 10% semanais ajudam a manter a qualidade da água.
Reprodução
Para a reprodução dos ciclídeos africanos, é importante separar machos e fêmeas. Manter um harém de fêmeas é a melhor opção. Durante o acasalamento, os machos exibem cores mais vivas e começam a limpar o local para a desova. Após a desova, a fêmea guarda os ovos na boca. É aconselhável separar a fêmea em outro tanque com as mesmas características da água para protegê-la e aos filhotes.
Iluminação
A iluminação tem o papel de realçar as cores dos ciclídeos e facilitar a alimentação. Ciclídeos africanos ficam muito bonitos sob lâmpadas de cor rosa ou azul, que fazem suas cores brilharem mais. Uma boa dica é misturar luzes azuis e rosas.
Alimentação
Os ciclídeos africanos são comilões e precisam de uma dieta adequada. Mbunas são herbívoros e se alimentam de algas e pequenos invertebrados, enquanto os Non-Mbunas são onívoros. Uma dieta com excesso de proteína animal pode causar a doença Malawi Bloat. Spirulina é uma excelente opção de alimento, rica em nutrientes e que realça a cor natural dos peixes.
Considerações Finais
Para manter ciclídeos africanos saudáveis e vibrantes, é fundamental replicar as condições de seu habitat natural. Isso inclui uma boa circulação de água, filtros adequados, iluminação correta e uma dieta balanceada. Seguir essas recomendações garantirá que seus ciclídeos prosperem e exibam comportamentos naturais, proporcionando um aquário bonito e saudável.